Uma explicação, não uma resposta

Eu tenho TDAH e Transtorno de Ansiedade Social, vamos direto ao ponto, a atenção existe sim no TDAH, mas de uma forma totalmente desiquilibrada. Ou você se interessa e fica completamente obcecada por horas, dias, até meses, você procura, pesquisa, compra coisas sobre, se entope até esgotar sua energia, ou você simplesmente não consegue focar porque aquilo não te interessa, você se dispersa no que eu chamo de borrão cinza, não necessariamente um TDAH que não prestou atenção em algo estava pensando em algo do seu interesse, as vezes são pensamentos nevosos, sem formato, sem cor, sem significado, apagam rápido e é como se aquele momento simplesmente não tivesse existido. 

O esquecimento constante acaba sendo visto como descuido, relaxo e até te traz uma imagem de preguiçosa. Contantes repreensões, constante sentimento de inferioridade, "porque eu sou assim?", você acaba se retraindo e se comparando com as pessoas a sua volta e se perguntando como todo mundo consegue e você não. Eu sempre fui muito tímida e todo esse problema me fez buscar por um ponto de conforto, um escape. Minha estratégia era: "Para não ser julgada é melhor guardar, guarde seus pensamentos esquisitos, seus gostos peculiares, suas falhas e dificuldades, fale menos, seja o mais invisível possível, quanto mais irrelevante você for menos as pessoas vão te apontar e te julgar, menos confltos você cria e menos problemas você terá".

Ai que entra meu segundo transtorno, a ansiedade social. Minha timidez me levou a pontos de loucura, o medo de ser julgada cresceu em escala enorme, claro que tive momentos em que superei alguns aspectos e que são grandes vitórias até hoje, mas eu não cuidava do que havia por dentro, aquela cobrança excessiva que eu fazia comigo mesma para alcançar resultados, a culpa que eu jogava em mim, tudo foi crescendo a ponto de me esmagar. O que parecia uma pequena tensão da imaturidade se tornou um problema, tremores, suor, taquicardia, dores estomacais e intestinais, cansaço mental e físico, tonturas, enjoos, uma sensação de morte que não se concretiza nunca. É como se algo ruim, (e bota muito ruim nisso), fosse acontecer a ponto de eu não ser capaz de superar. O que é curioso, pois se fosse isso, uma única vez acontecendo pouparia tantos "ensaios" que são as crises de ansiedade. 

A combinação dos dois não funciona, se a ansiedade some com ansiolitico, o tdah simplesmente faz você parecer uma incompetente, o foco some, esquecimento igual a da Dory, uma espécie de perda de memória recente, um sono excessivo e um cansaço constante. A medicação para o TDAH te ajuda a focar e prestar atenção, você se lembra das coisas, mas os psicoestimulantes estimulam a ansiedade. Me sinto em uma queda de braço, tentando não perder, mas tentando não ganhar, tentando equilibrar, nenhum dos dois pode vencer.

O diagnóstico te da uma clareza, mas não te dá a cura, não chega nem perto de ser uma solução. Você só vai saber que nunca será um neurotipico, ou como chamamos: "pessoa normal". Não vai ser, você vai carregar sempre um peso a mais. Todos temos problemas, mas quem tem um transtorno terá um constante e persistente. Eu gostaria de escrever um motivacional aqui, mas a realidade é que você nunca vai se olhar com tanta empatia e aceitação como os posts do Instagram, você vai enfrentar as dificuldades da sua condição e não vai ser nada parecido com aquele reel que você assistiu rindo e disse: "é muito eu", vai doer, vai machucar, você vai dizer: "porque não posso ser como as pessoas normais?". Os elogios sempre serão carregados de "será que estou sendo mesmo suficiente?". 

Equilíbrio, essa palavra nunca fez jus a mim. Eu tenho a Lua em libra, então minhas emoções sempre dizem: "precisamos de equilíbrio", enquanto o meu sol em câncer, meu temperamento Sanguíneo-Melancólico e minha personalidade ENFP carregada de TDAH e Ansiedade simplesmente riem. O equilíbrio não existe, você só quer, aliás, você vai virar obcecada em ser equilibrada e nem vai reparar o quanto está sendo exagerada com isso. 

A terapia é algo que precisa ser presente, medicação precisa estar ali, mas não devem ser suas muletas, você precisa ser por você, ser a sua resposta mesmo que ainda se veja como uma pergunta mal formulada.

Comentários

  1. Me identifiquei bastante. Eu não tenho a fobia social, mas a combinação de TDAH com Autismo já me fez fazer coisas que não gostaria e dificuldades para conseguir empregos. Embora eu tenha conseguido achar uma forma criativa de usar meu Déficit de Atenção como Inspiração, é mais uma luta constante consigo mesmo para ver quem fica no controle. Mas, é essa luta que nos realiza e mostra como estamos vivos.

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    1. Fico feliz que tenha compartilhado sua experiência! É uma luta mesmo, mas é como você disse, nos mostra como estamos vivos! ❤️

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